domingo, dezembro 03, 2006

Desta nem eu sabia.

Prelúdio Getuliano em Petrópolis
Francisco de Vasconcellos
O novo hóspede do Palácio Rio Negro durante o verão de 1931 seria Júlio Prestes, se o movimento revolucionário 3 de Outubro de 1930 não tivesse triunfado, levando Getúlio Vargas à chefia do governo provisório da Nova República.
Enfim, Vargas no Catete, organização do Ministério, acertos múltiplos, apaziguamento de alguns arraiais insatisfeitos com a partilha dos quinhões do poder. Boataria. Incertezas.
Vem janeiro de 1931. Petrópolis se inquieta ante a perspectiva de não ter o primeiro mandatário da Nação no comando da saison, como era tradicional na vida da cidade, de Pedro II a Washington Luiz, com pequenos lapsos nos tempos duros de Deodoro e Floriano.
A 9 de janeiro, o prefeito Yeddo Fiuza foi ao Catete, para levar a Getúlio a mensagem da Liga do Comércio de Petrópolis, clamando pela presença do Presidente nestas serras, ainda que fosse por pequeno período.
A Tribuna de Petrópolis de 18 de janeiro, trazia na íntegra, em nota de primeira página, o resultado da diligência de que se encarregara Fiuza. Eis o texto:
“Cabe-me informar à Liga do Comércio, que no dia nove do corrente, cumprindo a missão que me foi dada, fui pessoalmente entregar ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas a mensagem que por intermédio do da classe comercial, a população de Petrópolis fez ao Exmo. Sr. Presidente do Governo Provisório, para que sua estação de repouso fosse feita nesta encantadora e hospitaleira cidade.
Recebido no Palácio Guanabara por S. Excia. e depois de fazer-lhe o apelo em nome da população e em nome do governo da cidade, mostrando-lhe a honra e o entusiasmo com que o povo petropolitano o receberá, S. Excia. respondeu-me que recebia o apelo com grande satisfação e provavelmente em fevereiro, depois de resolver as questões relativas ao orçamento e após seu regresso de Minas , virá fazer sua estação de repouso em Petrópolis. Atenciosas saudações. Yeddo Fiuza – Prefeito.”
Esse encontro não ficou consignado no “Diário de Getúlio Vargas”, agora (1995) trazido a lume, em dois grossos volumes pela Siciliano/FGV. Está à pág. 41 do 1º volume, no que concerne aos dias 3 a 9 de janeiro de 1931:
“Esqueci-me de tomar notas. Várias coisas importantes ocorreram, que não guardo na memória para relatar.” Falou do câmbio, do Banco do Brasil, da liquidação do Banco Pelotense, mas nada disse sobre a visita que lhe fizera Yeddo Fiuza.
Em contra partida, há um fato que passou inteiramente desapercebido da imprensa petropolitana e que representa o primeiro contato de Getúlio com Petrópolis, na qualidade de chefe de Governo e que no entanto está registrado à pág. 44 do 1º volume do Diário, referente a 18 de janeiro de 1931, domingo. Vejamos o texto:
“Pela manhã despachei volumoso expediente. À tarde, em companhia do Ministro do Exterior e famílias, visitei Petrópolis, tomamos um chá no Hotel Independência e fomos ver o Palácio Rio Negro. Temperatura agradável, quase fria.
À noite, após a ceia, fui visitar Oswaldo Aranha que perdera uma irmã, Luisila Varnieri, falecida em Porto Alegre.”
No dia seguinte, 19 de janeiro, segundo o Diário, explodiria uma revolução comunista. Foram feitas várias prisões, entre elas a de dois irmãos de Maurício de Lacerda, pai de Carlos Lacerda, que 24 anos depois provocaria a queda de Vargas e o seu suicídio.
O prometido repouso aqui, já em fevereiro, não veio a furo. Getúlio embarcou para Belo Horizonte e de lá tomou o rumo de São Lourenço, onde fez pequena estação, hospedado no Hotel Brasil, e, excursões por Lambarí, Cambuquira e Caxambu.
A 15 de março, deixou São Lourenço, viajando até Cruzeiro e daí a Entre Rios ( Três Rios, de hoje ), onde fazendo transbordo para um trem da Leopoldina, iniciou a parte final de sua estafante jornada, tendo como destino Petrópolis.

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